12/05/2012


O ESPÍRITO NATALINO

O que poderíamos falar deste tão famoso termo frequentemente usado no final de todos os anos: “O Espírito Natalino”? Alguns usam como se ele fosse extremamente positivo, já os outros o rejeitam como se estivessem se referindo a uma maldição. Lembro-me de como detestava o Natal quando era criança. Via todos os meninos da rua saindo com suas famílias, meus amigos indo com seus pais as lojas para comprar seus presentes, enquanto suas mães preparavam mesas muito bem decoradas e todos se mostravam ansiosos pela noite para cearem juntos. Quando passava pelo centro da cidade, via todas as ruas decoradas, praças cheias de iluminação colorida, e tudo aquilo me deixava tremendamente angustiado, simplesmente por pensar em como seria a minha noite naquele dia, tinha razões para temer este momento e enquanto todos estavam alegres eu me sentia abatido. Sabia que meu pai não estaria em casa, minha família não estaria reunida para comer um belo peru recheado e eu, por mais um Natal, não receberia a visita do ilustre velhinho de barba branca.
Depois de todo aquele período, entreguei minha vida a Cristo e pensei que a data teria uma grande importância para mim. Vi, no entanto, que os irmãos da igreja em que eu estava eram extremamente radicais quanto a comemoração do Natal, falando o tempo todo sobre a maldição do espírito Natalino. Lembro-me de ver ensinos em que os palestrantes diziam que o dia 25 de dezembro foi o dia em que Ninrode construiu a Babilônia e que a árvore de Natal tinha uma origem macabra, pois os romanos penduravam máscaras de
Baco nas plantas para comemorar a festa chamada Saturnália.
Tudo aquilo me assobrava e eu ficava assustado com tudo o que ouvia do Papai Noel. Muitas daquelas pessoas não se reuniam com seus familiares, pois diziam que as mesas de comida eram oferendas a deuses, era fogo estranho, comida consagrada ao espírito do Natal. Muitos iam para o monte da cidade para repreender os demônios dessa data, outros chegavam a dizer algo que nunca esqueci: Melhor é a casa onde há luto do que a casa que há festa, então, no dia de Natal eu faço questão de ir ao velório. Tudo aquilo era muito confuso para mim, porém aderi o conceito que estava recebendo.
Não quero julgar estas pessoas, mas por conhecê-las sabia que muitas delas tiveram um passado, na infância tão terrível quanto o meu, e aquela apostila era uma arma usada para lutar contra suas próprias lembranças engavetadas, eram defesas pra não tocar em feridas infeccionadas de anos atrás que não foram tratadas em relação a família, cobertura paterna, situações de crise e caos traumáticas que marcaram suas almas. Com o passar do tempo, tornei-me obreiro, passando, assim, a ministrar em cultos de ensino da palavra. Durante muito tempo ensinei sobre o Natal com base nesta mesmas apostilas que diziam que o Natal era algo pecaminoso.
Os anos se passaram, começamos o nosso ministério, e com isso, entendemos que o vinho novo só pode ser derramado sobre
odres novos.
A maturidade foi estabelecendo em nossos corações raízes cada vez mais profundas e isso nos tornou sensíveis ao equilíbrio e a compreensão, nos preparou para aproveitar as oportunidades que as necessidades proporcionam. Os nossos estudos precisam ser a luz da bíblia, de princípios. Não podemos fazer ou deixar de fazer alguma coisa porque alguém criou uma cultura pagã sobre uma doutrina bíblica, então eu tiro o Papai Noel, o consumismo, o espírito Natalino e coloco o Espírito Santo de Deus adorando o Papai do Céu. Deus levou José para um país pagão, deu a ele uma mulher que nem crente era e o transformou no maior governador do mundo.
Martinho Lutero certa vez estava orando e ouviu uma macabra risada atrás dele. Então perguntou: Quem está aí? É o diabo! Respondeu a voz, ao que Lutero prontamente retrucou:  É só você?! Pensei que fosse alguém importante. Devemos parar de ficar dando glória ao diabo e entender que todas as coisas são santas para os santos.
Quantos de nós já servimos de forma direta e indireta a Satanás e nem por isso fomos exilados da obra de Deus, antes, porém, fomos incluídos por sermos lavados e remidos com o sangue do cordeiro. O maior projeto de Deus é tirar as coisas que são Dele das mãos do diabo e transformá-las em coisas santas, e com essa data não é diferente. Eu não posso deixar de fazer uma ceia com minha família, reunir todos em minha casa em volta da mesa, abençoar meus filhos e ensinar para eles quem foi Jesus só porque pessoas tiraram proveitos políticos e econômicos de uma situação e introduziram fábulas a um acontecimento bíblico.
Sabemos que há uma cultura pagã associada a essa data e isso foi mais forte do que o objetivo dos líderes da igreja da época, porém, era exatamente isso que não teria acontecido se tivéssemos há tempos nos posicionado a remir o que é sagrado no meio da sujeira. Quantos de nós fomos ministrados por apostilas de estudo sobre o Natal e se esqueceram da bíblia? Alguns se sentem debaixo do julgo nessa data em função de algumas informações extremistas que receberam.
Algumas pessoas dizem que há um peso espiritual sobre o mundo no dia 25 de dezembro, mas não há. Quando um filho morre é natural que a mãe, nesta data do ocorrido fato que resultou em sua perda, chore, se entristeça. Isso não está relacionado ao espírito, e sim a um estado emocional materno. Ao assistirmos a um filme e vermos o mocinho sendo injustiçado, é natural nos colocarmos no lugar dele e extrairmos para nós um pouco de sua dor, como também nos alegrarmos muito quando o quadro de sua realidade muda e, ao invés de perder, ele passa a ganhar. Seja uma luta ou qualquer outro contexto que o filme retrate, somos transportados para dentro dele, por isso mexe com nossas emoções. Isso acontece também com as datas. É normal nós, pastores, irmos a um velório ministrar
um culto em favor da família de uma pessoa que nem sequer conhecemos e, ao ver as pessoas chorando, chorarmos também. Isso não está relacionado a um peso espiritual, mas uma carga emocional contida naquele ambiente.
Descobri depois que o ambiente do Natal era pesado para mim pelas lembranças dolorosas do passado, mas eu não poderia privar minha família de experimentar um bom momento de comunhão e lembrar que um menino nos nasceu e um filho se nos deu e o Seu Nome está sobre todo o nome e Ele se chama Jesus Cristo, o Messias nosso Salvador.
NOTA: Este texto é trecho do Livro Papai do Céu ou Papai Noel? Disponível para compra no MEVAM Shopping.